Imagine que sua câmera fotográfica lhe diga que percentagem estética tem a foto tirada.
 Seria a câmera inteligente. Há quem diga que é um avanço em tecnologia e 
inteligência artificial. 
Outros, no entanto, a veem como algo aterrorizante porque será que uma
 máquina pode medir a beleza?
Nadia, a câmera que mede a percentagem de beleza de uma fotografia(EFE)
Esta nova invenção se chama Nadia e é uma câmera de fotos muito particular. 
Um projeto ainda em vias de desenvolvimento realizado pelo artista e desenhista de 
origem australiana Andrew Kupresanin.

Primeiro você aperta um botão para tirar sua fotografia, não poderá vê-la no mesmo instante, 
pois ela será enviada a um computador que, conectado à internet, 
analisará a tomada realizada.
Percentagem de beleza de sua fotografia na nova câmera inteligente Nadia(EFE)
O segundo passo será esperar uma resposta. Momentos depois, você receberá na 
parte traseira de sua câmera um sinal com a percentagem de beleza da foto. 
O terceiro e último passo será descobrir se, por trás dessa tomada, se esconde 
ou não um grande fotógrafo.
Para os bons profissionais é uma maneira fantástica de levantar o ego,
 mas é preciso ter cuidado porque, para um fotógrafo amador, 
pode ser o fim de uma bonita torcida.
A Nadia utiliza a tecnologia "acquine", um portal de internet com uma interface simples,
 que desde 2009 se encarrega de qualificar automaticamente as imagens lá postadas.
A câmera inteligente atua com um dispositivo celular Nokia N73 conectado via 
bluetooth 
a um computador Macintosh que por sua vez está conectado ao portal "acquine".
Segundo diz Kupresanin à Agência EFE, este sistema compara uma imagem a um 
conjunto de dados de usuários avaliados pelo portal photo.net.
Os parâmetros utilizados no "acquine" se baseiam nos grandes princípios do desenho 
tais como cor, textura, enquadramento e exposição.
Por mais impossível que pareça, se trata de um algorítmo encarregado de delimitar
 a beleza de uma tomada.
Um objeto conceitual

Esta câmera inteligente ainda não é uma realidade. O certo é que Nadia é só o
 princípio do que pode vir.
 A dúvida que se coloca é: em um futuro existirão dispositivos que tenham a capacidade 
de pensar esteticamente por si sós?
Kupresanin tem certeza que sim e isto lhe gera uma dúvida: "Como este avanço 
interferirá na definição de um cânone de beleza, em moldar nossos gostos e sobretudo, 
até que ponto se modificarão nossos próprios processos criativos?". 
"As respostas", diz, "estão no ar".
Uma fotografia precisa ser bonita bela para ser boa?(EFE)
O protótipo desta curiosa câmera inteligente foi apresentado na Klasse Digitale da 
Universidade das Artes de Berlim, na Alemanha. A iniciativa foi de Joachim Sauter 
e Angesleva Jussi.
Na entrevista concedida à EFE, Kupresanin insiste no fato de que "este novo brinquedo
 mais do que estar destinado a um uso comercial pretende produzir uma reação nas pessoas".
 Nas palavras dele "é um objeto conceitual para gerar debate".
Este engenhoso artista abre uma dúvida e lança à opinião pública algo que para ele 
é de vital importância: "Como encaixar todos estes avanços em nossa cultura?"
Do ponto de vista de Kupresanin, "é necessária uma reflexão conjunta antes de 
lançar todas estas máquinas no mercado".
"A inteligência artificial é algo inevitável, os seres humanos são curiosos demais 
para que não se transforme em uma realidade", comenta.
"Dentro da cultura pop e da sociedade da inteligência artificial é um tema 
que se aborda com esperança, medo, cinismo, curiosidade e cautela", 
esclarece o desenhista.
A beleza pode ser medida?(EFE)
Inteligência artificial, emoções e fotografia
Que as máquinas pensem por si sós não é um tema de agora. 
Um repasse da história da inteligência artificial a define como o ramo das
 ciências da computação destinada ao desenvolvimento de agentes racionais não vivos.
Os sistemas de inteligência artificial são parte do dia a dia em campos como economia, 
medicina e engenharia. Nesta linha já existem sistemas inteligentes capazes de tomar 
decisões "acertadas".
A maioria das pesquisas no âmbito da inteligência artificial se centra nos aspectos racionais,
 embora já hajam muitos que consideram seriamente incorporar componentes "emotivos"
 a fim de aumentar a eficiência destes sistemas inteligentes.
Em relação a este tema o fotojornalista uruguaio Bernardo Paz comenta: "Todos sabemos
 que os computadores não pensam, não tomam decisões, carecem de sentimentos por mais
 que o cinema, a ficção científica ou os astutos diretores de marketing queiram nos fazer 
pensar assim". "Um programa de informática só é capaz de fazer o que foi lhe determinado
 que faça".
Um pouco de filosofia

A subjetividade na arte de fotografar foi cunhada pelo fotógrafo alemão Otto Steinert 
que na década de 60 lançou os fundamentos teóricos que serviram para explicar as 
diversas maneiras de fazer da fotografia moderna.
A fotografia é, entre outras muitas coisas, um testemunho da passagem do tempo e traz 
consigo um componente emotivo demais para poder estabelecer parâmetros objetivos 
e comuns.
"A fotografia é antes de mais nada uma maneira de olhar. Não é o próprio olhar", diz 
Susan Sontag, romancista e ensaísta americana.
Quando se tira uma fotografia, esta permanece e quando se volta a olhar muito tempo
 depois o que se sente? Como disse Sontag "a fotografia tem muito a ver com a nostalgia".
Que uma câmera possa nos dizer se nossa foto é mais ou menos "correta" no que se 
refere aos formalismos técnicos é um avanço mas, até que ponto esta máquina poderá 
avaliar as emoções de cada um?
Bernardo Paz acrescenta um comentário-chave para entender esta postura: 
"O fato de que possamos escrever de forma correta não significa que nossa 
descrição vá se transformar em uma obra de arte".
Perante este complexo entrecruzado de opiniões, o fotojornalista
 lança uma questão vital: 
"Uma fotografia tem que ser bonita para ser boa?"
Como diz Kupresanin, as respostas estão para chegar, cada um deveria se perguntar 
até que ponto isto pode ser uma vantagem ou uma desvantagem.
"Estas são realmente as questões que a Nadia está pedindo. Espero que as pessoas 
teste o "acquine" e tire suas próprias conclusões", conclui o desenhista.